O Cane Corso Italiano é um cão robusto, ótimo guardião, possui temperamento muito equilibrado e com ampla dedicação à família.
Sua função principal é a guarda de propriedade. Essa guarda é feita de forma equilibrada, não oferecendo risco ao convívio familiar, portanto é um ótimo cão de família também incluindo excelente convívio com crianças. O mais comum é que aceite bem pessoas estranhas ao dia-a-dia da casa, desde que apresentado pela família. Na ausência da família, o comum é que o cão estranhe e ataque o indivíduo que entrar na propriedade sem as devidas apresentações. Seu comportamento é sempre previsível o que favorece o seu controle. Por estes motivos é conhecido como “guardião inteligente”.
Como se trata de um cão territorialista e de porte grande, não é recomendado o convívio do mesmo em matilhas numerosas. O indicado é a convivência entre cães de gêneros opostos para evitar brigas e acidentes.
O apego ao dono é incondicional e todo cane corso faz questão de proximidade, de contato direto e de muita atividade diária. Não é recomendado para ficar isolado, sem convívio com o proprietário durante muito tempo, pois sentirá muita falta da presença humana.
A raça ainda é pouco difundida no Brasil. O principal motivo pode estar ligado ao fato de ter sido reconhecida pela FCI (Federação Internacional de Cinofilia) há poucas décadas, no final do século passado.
Nossa criação é composta por animais selecionados para complementação fenotípica e comportamental. Envolve linhas de sangue tradicionais e modernas com o objetivo de criar cane corsos que apresentem toda a rusticidade de um cão de trabalho associada à elegância e correções exigidas pelo padrão da raça.
PAÍS DE ORIGEM: Itália.
DATA DE PUBLICAÇÃO DO PADRÃO OFICIAL VÁLIDO: 13/11/2015
UTILIZAÇÃO: Cão de Guarda, defesa, polícia de faro.
CLASSIFICAÇÃO F.C.I.: Grupo 2 – Pinscher e Schnauzer – Raças Molossóides – Cães Montanheses Suíços e Boiadeiros. Seção 2.1 – Raças Molossóides, tipo Mastife. Sem prova de trabalho.
BREVE RESUMO HISTÓRICO: O seu descendente direto é antigo Molosso Romano. Anteriormente espalhada por toda a Itália, no passado recente, a raça era prevalente apenas na província da Apulia e nas regiões adjacentes do sul da Itália. Seu nome deriva do Latim “cohors”, que significa “protetor, guardião da fazenda”.
APARÊNCIA GERAL: De tamanho médio para grande. Cão robusto e vigoroso, contudo, com muita elegância. Músculos esguios e poderosos.
PROPORÇÕES IMPORTANTES: O cão é retangular em seu contorno e é ligeiramente mais longo que alto. (O comprimento do cão é 11% maior que a altura dele). O comprimento da cabeça atinge 36% da altura da cernelha.
COMPORTAMENTO / TEMPERAMENTO: Guardião de propriedade, da família e do gado; é extremamente ágil e obediente. No passado, foi utilizado para guardar o gado e caçar animais grandes.
CABEÇA: Larga e tipicamente molossóide. Uma ligeira convergência dos eixos longitudinais superiores do crânio e do focinho, mas sem rugas evidentes.
REGIÃO CRANIANA
Crânio: Largo no nível dos arcos zigomáticos, sua largura é igual ou maior do que seu comprimento. Convexo na fronte, e se achata ligeiramente atrás da testa até o occipital. O sulco médio frontal é visível, começando no ‘stop’ e terminando aproximadamente no meio do crânio.
Stop: Bem definido, com seios frontais proeminentes.
REGIÃO FACIAL
Trufa: Preta. Uma máscara cinza tem uma trufa de cor da mesma nuance. Trufa larga, com narinas amplamente abertas. Trufa localizada na mesma linha que a cana nasal.
Focinho: Forte, quadrado, visivelmente mais curto que o crânio, relação crânio:focinho de aproximadamente 2:1. A parte frontal do focinho é plana; suas faces laterais são paralelas; o focinho é tão largo quanto longo. Visto de lado, é profundo. Vista de perfil, a cana nasal é reta.
Lábios: Os lábios superiores, vistos de frente, formam um “U” invertido no seu ponto de encontro; vistos de lado, pendem moderadamente. Eles cobrem a mandíbula e determinam o perfil da parte inferior do focinho.
Maxilares / Dentes: Os maxilares são muito largos, espessos e curvados. Ligeiro prognatismo inferior, mas não mais que 5 mm. A mordedura em pinça (torquês) é tolerável, mas não desejada.
Bochechas: A região massetérica é totalmente evidente, mas não bojuda.
Olhos: São de tamanho médio, ligeiramente protuberantes, mas nunca exagerado. Fecham-se em formato oval, inseridos bem separados quase na posição subfrontal. As pálpebras são bem aderentes. A cor da íris é a mais escura possível, mas de acordo com a cor da pelagem. A expressão é viva e alerta.
Orelhas: Triangulares, pendentes, de tamanho médio. Com uma ampla base, localizada muito acima dos arcos zigomáticos. As orelhas não são cortadas.
PESCOÇO: Forte, musculoso, tão longo quanto a cabeça.
TRONCO: O tronco é ligeiramente mais longo do que a altura na cernelha. De constituição forte, mas não quadrada.
Cernelha: Pronunciada, elevada acima do nível da garupa.
Dorso: Reto, bem musculoso e firme.
Lombo: Curto e forte.
Garupa: Longa e larga, ligeiramente inclinada.
Peito: Tórax bem desenvolvido em todas as dimensões, desce até o cotovelo.
CAUDA: Natural. Inserida relativamente alta; muito grossa na raiz. Em ação, portada alta, mas nunca ereta ou enrolada.
MEMBROS ANTERIORES
Ombros: Longos, oblíquos, bem musculosos.
Braços: Fortes.
Antebraços: Retos, muito fortes.
Carpos: Elásticos.
Metacarpos: Elásticos e apenas ligeiramente inclinados.
Patas anteriores: Patas de gato.
MEMBROS POSTERIORES
Coxas: Longas, largas, com a linha posterior da coxa convexa.
Pernas: Secas, não carnudas.
Joelhos: sólidos, moderadamente angulados.
Jarretes: Moderadamente angulados.
Metatarsos: Espessos e resistentes.
Patas posteriores: Um pouco menos compactas do que as patas anteriores.
MOVIMENTAÇÃO: Passadas longas, trote alongado; o trote é a movimentação preferida.
PELE: Espessa e bem aderente.
PELAGEM
Pelo: Curto, brilhante, muito denso com um leve subpelo de textura vítrea.
Cor: Preto, cinza chumbo, cinza ardósia, cinza claro, fulvo claro; vermelho cervo e fulvo escuro; cor de trigo escuro (listras em diferentes tons de fulvo ou cinza); em cães fulvos e tigrados, a máscara preta ou cinza no focinho não deve ultrapassar a linha dos olhos. Uma pequena mancha branca no peito, na ponta dos dedos e sobre a cana nasal é aceitável.
TAMANHO / PESO
Altura na cernelha: Machos: 64 – 68 cm. Fêmeas: 60 – 64 cm. Com uma tolerância de 2 cm acima ou abaixo dos tamanhos.
Peso: Machos: 45 – 50 kg. Fêmeas: 40 – 45 kg. Peso de acordo com o tamanho do cão.
FALTAS: Qualquer desvio dos termos deste padrão deve ser considerado como falta e penalizado na exata proporção de sua gravidade e seus efeitos na saúde e bem estar do cão e em sua habilidade para executar seu trabalho tradicional.
FALTAS GRAVES
• Eixos superiores do crânio e do focinho paralelos ou muito convergentes; faces laterais do focinho convergentes.
• Despigmentação parcial da trufa.
• Mordedura em tesoura; prognatismo inferior maior que 5mm.
• Cauda enroscada, cauda na posição vertical.
• Acima ou abaixo do tamanho.
• Presença de ergôs.
FALTAS DESQUALIFICANTES
• Agressividade ou timidez excessiva.
• Todo cão que apresentar qualquer sinal de anomalia física ou de comportamento deve ser desqualificado.
• Divergência do eixo crânio-facial.
• Trufa totalmente despigmentada.
• Cana nasal muito côncava ou convexa (nariz romano).
• Prognatismo superior.
• Despigmentação parcial ou completa das pálpebras.Olhos porcelanizados(azul salpicado); estrabismo (vesgo).
• Cauda ausente ou muito curta.
• Pelo semilongo, muito curto ou franjado.
• Todas as cores não indicadas no padrão; largas manchas brancas.
NOTAS:
• Os machos devem apresentar os dois testículos, de aparência normal, bem descidos e acomodados na bolsa escrotal. • Somente os cães clinicamente e funcionalmente saudáveis e com conformação típica da raça deveriam ser usados para a reprodução.
Escultura onde aparece um molosso – fêmea – inspirada em cães da região da antiga Mesopotâmia.
A origem mais provável do Cane Corso é de um cão molossóide que habitava a região da antiga Mesopotâmia entre o terceiro e segundo milênio a.C.
Escultura onde aparece um molosso – fêmea – inspirada em cães da região da antiga Mesopotâmia.
O Cane Corso é um dos dois cães nativos da Itália do tipo mastife que descende de um antigo molosso romano chamado ”canis Pugnax”. Tanto ele quanto o Mastim Napolitano são os legítimos herdeiros desse lendário cão de guerra.
Molosso com porte atlético e vigoroso usado em guerra.
O Cane Corso é a versão mais leve desse molosso, adequado à caça ou ao trabalho nas fazendas. Resistente, forte, atlético e de temperamento vigoroso, pronto para enfrentar qualquer desafio. Por outro lado, o Mastim Napolitano é a versão pesada oriunda dessa mesma fonte genética.
Vários são os artefatos que foram encontrados em diferentes regiões, e que na sucessão dos séculos testemunham a presença constante deste cão ao lado do homem dessa região. Esse molossóide evoluiu com a espécie humana e se diferenciou em raças distintas em função do clima, do emprego e talvez até mesmo do gosto pessoal.
O uso original do Cane Corso foi nas fazendas da região centro – sul da Itália. Nestas áreas foi utilizado diariamente, valorizado e apreciado como guardião e defensor das propriedades rurais, mas também como coadjuvante em busca de grandes caças, javalis principalmente.
O Cane Corso viveu o seu período de glória no século XIX e, em seguida, na recuperação econômica após a primeira Guerra Mundial. Depois disso, a produção agrícola e pastoril sofreu uma queda substancial, reduzindo também o interesse para o gado e, portanto, resultando em uma menor exigência da presença dos Corsos.
De 1920-1940 foram os anos de recuperação. Com o retorno ao interesse na terra, criadouros retornam o crescimento e o Cane Corso volta para preencher sua antiga função.
O Cane Corso novamente torna-se comum na Itália. O número de cães era notável e os agricultores possuíam um abundante material genético a ser utilizado para obter animais que melhor se adequassem às suas necessidades.
Com a chegada da II Guerra Mundial, tudo para. Além das tragédias vindas com a guerra, a crise agrícola foi acentuada em consequência de novas leis de uso da terra e o início da era industrial.
Na década de 1951 a 1961 muitas fazendas cessaram produção e a população do sul da Itália decresceu em cerca de 20%. O Cane Corso atingiu o seu ponto de maior decadência, cercado por desinteresse e negligência da população rural que, na ocasião, era influenciada pelo crescimento industrial.
No entanto, por paixão ou necessidade, algumas poucas fazendas preservaram indivíduos da raça. A partir destas pequenas ilhas de resistência foi que os pesquisadores começaram a selecionar, durante décadas, exemplares para definição do padrão do Cane Corso Italiano que tinha por base características morfológicas e utilidade. Neste trabalho, Gandolfi , Malavasi e Sereni foram os pesquisadores de maior destaque.Eles contribuíram para a fundação da S.A.C.C. ( Societá Amatori Cane Corso) e orientação ENCI com seus especialistas e seus juízes.
Os primeiros contatos com os remanescentes da raça datam do final da década de 1970, na região da Puglia, no Sul da Itália. O foco inicial dos pesquisadores ( Paolo Breber, Gandolfi e os irmãos Malavasi) foi em seis exemplares ( dois machos e quatro fêmeas), nascidos em ninhadas de 1975 e 1978, todos de médio a grande porte.
Os exemplares apresentavam porte atlético, com estrutura molossóide, mas absolutamente desprovida de qualquer peso, totalmente diferente do Mastim Napolitano. Estes exemplares, muito semelhantes em estrutura, diferenciavam-se em dois tipos em relação à morfologia de cabeça: Alma e Cocab, nascidos em 1978, filhos de Brina (fotos abaixo), tinham a cabeça com fuça pronunciada e mordedura em tesoura . A mãe, Brina, no entanto, tinha focinho mais curto e a mordida em tesoura invertida. Tipsi ( foto abaixo), também filha de Brina, já apresentava morfologia de cabeça similar aos dos irmãos e mordedura similar à da mãe.
Brina – filha de Aliot di Ortanova e Mirak
Tipsi – filha de Picciut e Brina
Para fazer conjunto às fêmeas adicionou-se um macho denominado Tappo , também filho de Brina. Ligeiramente prognata , distinto, com os músculos salientes , cor fulvo claro. Completando a lista dos seis exemplares propostos adicionou-se Picciut , um macho tigrado, pai de Alma , Cocab , Tipsi e Tappo .
Tappo – Filho de Picciut e Brina
Em comum, todos estes cães tinham crânio facial ligeiramente convergente.
Muitas foram as dificuldades práticas na recuperação da raça, dentre elas destaca-se a falta de envolvimento dos proprietários os quais tinham sido atribuídos os indivíduos nascidos nas duas primeiras ninhadas produzidas por Breber, a heterogeneidade dos indivíduos nascidos e uma falta de cultura cinófila.
Somente duas fêmeas, Tipsi e Frost estavam sob controle direto dos envolvidos na recuperação. Entretanto, alguns indivíduos, em especial alguns machos, já estavam ficando idosos.
Nesse contexto os irmão Malavasi cederam o espaço do canil deles para abrigar e supervisionar os acasalamentos seguintes que seguiram a filosofia de seleção cinófila.
Entre finais de 1979 e janeiro de 1980, os três primeiros resultados saíram com o uso das fêmeas Alma, Tipsi e Frost juntamente com Dauno um macho negro nascido na primeira ninhada de Paolo Breber usando Mirak e Aliot.
Dauno – Filho de Aliot di Ortanova e Mirak
Os primeiros exemplares de Cane Corso da modernidade surgiram de cruzas consanguíneas com o objetivo de estabelecer as características do tipo e estrutura.
Os grandes destaques dessa seleção foram Basir e sua irmã Babak, escolhidos como modelos das características masculinas e femininas para padronização morfológica da raça, respectivamente.
Basir, filho de Dauno e Tpsi – modelo para padronização masculina da raça.
Babak, filha de Dauno e Tpsi – modelo para padronização feminina da raça.
O dia 18 de outubro de 1983 foi um dia histórico para o Cane Corso. Pela primeira vez, um pequeno grupo de entusiastas da raça reuniu-se com os seus cães. Os 12 espécimes adultos encontrados foram analisados e medidos com precisão pelo Dr. João Ventura, veterinário, criador e juiz ENCI (Ente Nazionale della Cinofilia Italia Italiana).
Quase todos os indivíduos eram leve prognatas, tinha o crânio facial ligeiramente convergente, e pesavam em média 47 kg, os machos e, 38 kg, as fêmeas. As cores eram, em sua maior parte, preto, tigrado, fulvo e cinza. Todos os cães tinham um porte atlético e seco, a cabeça era quadrada e maciça (Gandolfi).
No mesmo ano, os principais defensores da recuperação formaram um clube da raça para o Cane Corso, a Societá Amatori Cane Corso, que existe até os dias atuais.
Em finais da década de 1980 várias excursões ao sul da Itália, reuniões com amantes da raça e juízes simpatizantes formalizaram um maior número de exemplares da raça com medições morfológicas baseadas em Basir e Babak. Tais medições evoluíram para a formação do protótipo do padrão oficial do Cane Corso Italiano.
Em finais de 1993, quase uma centena de Canes foram apresentados em prova com presença de vários juízes ENCI. Diante do parecer favorável dos juízes, em 1994 o Cane Corso recebe o reconhecimento oficial ENCI e se tornou a 14ª raça italiana de cães. Em 1996 a raça recebe reconhecimento pela FCI (Federação Cinológica Internacional).
Texto adaptado de: Il Cane Corso – Casolino & Gandolfi – Mursia